Sabe quando você simplesmente cansa de tudo?
Cansa de ser, de fingir, de querer ser quem não é, de procurar pelo seu verdadeiro eu?
Eu cansei.
Cansei de ficar ao lado de todos, e não no centro, de ser a última escolha, de ser a escudeira, de ficar escondida nas sombras dos outros. Das Senhoritas Perfeitas.
São loirinhas e baixinhas, olhos azuis e voz meiga, mas tão meiga que enjoa. Como podem se enganar tão facilmente?
São ruivinhas, extrovertidas, estilosas. São perfeitas.
São tudo que eu não sou.
Elas tem corpos bonitos, elas tem carisma, todos riem de suas piadas, acham as Senhoritas fofas, queridas, engraçadas.
Eles simplesmente não podem ver. Ninguém pode ver.
Não sou perfeita, não tenho um belo corpo, não sou boa com piadas, não sou meiguinha.
Sou uma baixinha com cabelos negros e olhos escuros.
Sou aquela que ri das piadas das Senhoritas Perfeitas.
Sou uma pessoa, humana.
Tenho sentimentos, dores, lembranças, sonhos.
Eu sonho. Demais.
Talvez esse seja meu problema. Talvez eu deva parar de sonhar tão... como posso dizer? Tão incansável e estupidamente.
Príncipes encantados, dinheiro, família perfeita, felicidade...
Nada disso existe, nem nunca existirá para mim.
Porque eu tento, tento demais, mas ninguém entende.
Não sou perfeita, e não quero ser. Nunca ninguém vai perceber que a perfeição é algo estúpido e inexistente?
Parem de achar que gostam delas. As Senhoritas Perfeitas.
Mas ninguém nunca me verá como sou... Como eu devo ser.
Eu mesma.
Mas quem sou eu? Quem posso ser? Eu não sei, não consigo descobrir. E ninguém me ajuda.
Eu queria ser ajudada, protegida e amada uma vez na vida, ao invés do contrário.
Sempre a Nanda, a amiga escudeira, a querida que está lá para aconselhar, para ajudar, para reparar os corações partidos, para ser a camarada, para fazer piadas bobas que de tão sem graça, melhoram o humor de quem ouve.
Porque todos gostam delas? Sempre delas?
Aquela música diz a minha vida:
"Drew looks at me. I fake a smile, so he won't see."
Só isso que tenho feito minha vida inteira. A amiga escudeira esculachada. Sim, porque ninguém pensa em meus sentimentos.
Todos julgam. JULGAM! Ninguém tem o direito de fazer isso!
Nenhum ser humano tem o direito de julgar.
Porque se o fazem, significa que podem fazer melhor. Que são melhores.
Mas ninguém é melhor que ninguém.
Parem de me julgar, é um pedido desesperado que faço.
Parem de desdenhar encima de tudo que faço, falo, penso.
Não tenho o direito, como todo mundo, de expressar o que penso?
Não tenho?
E no dia em que alguém valorizar minha amizade ao invés de ficar se enganando com as Senhoritas Perfeitas, poderei respirar aliviada. Talvez.
Mas sei que não acontecerá.
Porque a vida não é nenhuma história, livro ou fic que eu tenha escrito alguma vez.
A vida é uma corda que vai apertando cada vez mais nossos sentimentos, cada vez encurralando mais, cada fez sufocando mais.
E se não temos quem nos ajude a passar por isso - e, acredite, já fui, várias vezes, esse 'quem' - nós acabamos sofrendo até definhar.
Não digo a morte. Não, a morte seria melhor.
A morte nos trás alívio, nos dá a certeza de que algo melhor irá acontecer.
Nos dá a esperança de que algo ficará bem.
Mas enquanto isso não acontece, eu sufoco em silêncio.
Continuo a eterna escudeira, a amiga confiável, porém inteligível e incompreendida.
Mas continuo em silêncio.
Meu eterno e sôfrego silêncio.
Book: The Blower's Daughter Soon.